terça-feira, 1 de outubro de 2013

Sábados, pra que te quero

Há dois anos tenho sábados às avessas... Antes era a aula que começava cedinho e só terminava quando a última gotinha de glicose se esvaísse do meu sangue... Depois vieram os passeios de ambulância, com direito à sirene ligada e um medo gostoso de sentir... Quando enfim minhas forças começaram a falhar, resolvi que os sábados seriam embalados por necropsias, dedicados aos pacientes, que me dão aulas de anatomia, e seus familiares, de resiliência...
Eu deixei que os sábados à noite fossem se tornando o tempero... Um sábado no mês, um beliscão pra me fazer acreditar. Eu deixei, mas não foi à toa... Havia um propósito, uma vontade intensa que me movia, e que talvez, aos olhos mais desavisados, nem uma longa explicação os fizesse enxergar. O tempo foi passando, e levando consigo essas tais motivações.
Fui resistindo, teimando, contrariando as estatísticas, deixando a fragilidade de lado e me atendo às delícias que meu ofício me proporciona... Até que... Até que uma delicada gota fez tudo transbordar, até que finalmente eu esmoreci e me entreguei, e no meu pranto resolvi recuar. Eu reconheço. Eu volto atrás.  Eu não faço questão nenhuma de esconder.
A dor deu lugar à tranquilidade e meu tempo livre ganhou um gosto diferente. Agora há excitação. Agora há algo que me tira a paz, e me arranca gargalhadas... Agora, eu quero meus sábados de volta...

Nenhum comentário:

Postar um comentário