Há dois anos tenho sábados às avessas... Antes era a aula
que começava cedinho e só terminava quando a última gotinha de glicose se
esvaísse do meu sangue... Depois vieram os passeios de ambulância, com direito
à sirene ligada e um medo gostoso de sentir... Quando enfim minhas forças
começaram a falhar, resolvi que os sábados seriam embalados por necropsias,
dedicados aos pacientes, que me dão aulas de anatomia, e seus familiares, de
resiliência...
Eu deixei que os sábados à noite fossem se tornando o
tempero... Um sábado no mês, um beliscão pra me fazer acreditar. Eu deixei, mas
não foi à toa... Havia um propósito, uma vontade intensa que me movia, e que
talvez, aos olhos mais desavisados, nem uma longa explicação os fizesse enxergar.
O tempo foi passando, e levando consigo essas tais motivações.
Fui resistindo, teimando, contrariando as estatísticas,
deixando a fragilidade de lado e me atendo às delícias que meu ofício me
proporciona... Até que... Até que uma delicada gota fez tudo transbordar, até
que finalmente eu esmoreci e me entreguei, e no meu pranto resolvi recuar. Eu
reconheço. Eu volto atrás. Eu não faço
questão nenhuma de esconder.
A dor deu lugar à tranquilidade e meu tempo livre ganhou um
gosto diferente. Agora há excitação. Agora há algo que me tira a paz, e me
arranca gargalhadas... Agora, eu quero meus sábados de volta...
Nenhum comentário:
Postar um comentário