Faz tanto tempo... já faz tanto tempo.
Tempo que não escrevo, tempo que não me visito, tempo que
não me entrego.
Estava com saudades de mim e então decidi colocar pra tocar
minhas músicas prediletas, minhas músicas melancólicas, minhas letras poéticas...
Fui ler meus textos mais populares, li também alguns tão cheios de verdade e de
desabafos, uns com metáforas, outro em outra língua, e mais alguns repletos de
mim em forma de palavras, frases, mas sobretudo, reticências...
Escrevo e apago, porque boa parte de tudo é impublicável,
boa parte, talvez a melhor delas.
Censuras à parte, convenhamos, meus mistérios sempre foram
tão decifráveis... Minha leitura é simples, via de regra, repito, meus
esconderijos são óbvios.
Em quatro anos de aulas de piano, nunca memorizei onde fica
o dó... Em alguns minutos de dança já queria liderar a coreografia... Em 28
anos de vida ainda não criei meu manual. Todo dia um dia novo e as regras
mudam. Meus sonhos antigos vêm à tona, mas juntos deles tantos outros revolucionários
resolvem surgir... Pretensões ambiciosas se revezam com uma doce percepção do
que realmente importa... daquilo que eu vim aqui pra fazer.
Sonhos, ilusões, fugas, desilusões, pranto, calmaria,
resiliência, prece, e novos sonhos, mais esperança e nessa ordem, ou não, as
coisas, fatos e sentimentos se ocupam de acontecer.
Dias, semanas, meses, aulas, plantões, conceitos, protocolos,
doses, desafios, desafios e mais desafios... Secretamente eu reclamo, me
assusto, quase recuo, e quando me dou por vencida experimento a delícia de ter
dado mais um passo. Passos lentos, passos empacados, empurrados, em
tropeços, céleres... algumas quedas, e eu começo mais uma vez, e tantas quantas forem
necessárias.
Me perco, assim mesmo, começando as frases com pronomes,
invertendo a ordem gramatical e dando de ombros pras cansativas convenções...
Me perco nesse labirinto. Me perco pra me achar dentro de novos e reveladores
caminhos, sem atalhos, sem pontes traiçoeiras, andando mesmo que distâncias
maiores, pelas trajetórias mais iluminadas, não por medo do escuro, mas por
apreciar as cores do destino.