quarta-feira, 30 de março de 2016

Visita íntima

Faz tanto tempo... já faz tanto tempo.
Tempo que não escrevo, tempo que não me visito, tempo que não me entrego.
Estava com saudades de mim e então decidi colocar pra tocar minhas músicas prediletas, minhas músicas melancólicas, minhas letras poéticas... Fui ler meus textos mais populares, li também alguns tão cheios de verdade e de desabafos, uns com metáforas, outro em outra língua, e mais alguns repletos de mim em forma de palavras, frases, mas sobretudo, reticências...
Escrevo e apago, porque boa parte de tudo é impublicável, boa parte, talvez a melhor delas.  
Censuras à parte, convenhamos, meus mistérios sempre foram tão decifráveis... Minha leitura é simples, via de regra, repito, meus esconderijos são óbvios.
Em quatro anos de aulas de piano, nunca memorizei onde fica o dó... Em alguns minutos de dança já queria liderar a coreografia... Em 28 anos de vida ainda não criei meu manual. Todo dia um dia novo e as regras mudam. Meus sonhos antigos vêm à tona, mas juntos deles tantos outros revolucionários resolvem surgir... Pretensões ambiciosas se revezam com uma doce percepção do que realmente importa... daquilo que eu vim aqui pra fazer.
Sonhos, ilusões, fugas, desilusões, pranto, calmaria, resiliência, prece, e novos sonhos, mais esperança e nessa ordem, ou não, as coisas, fatos e sentimentos se ocupam de acontecer.
Dias, semanas, meses, aulas, plantões, conceitos, protocolos, doses, desafios, desafios e mais desafios... Secretamente eu reclamo, me assusto, quase recuo, e quando me dou por vencida experimento a delícia de ter dado mais um passo. Passos lentos, passos empacados, empurrados, em tropeços, céleres... algumas quedas, e eu começo mais uma vez, e tantas quantas forem necessárias.
Me perco, assim mesmo, começando as frases com pronomes, invertendo a ordem gramatical e dando de ombros pras cansativas convenções... Me perco nesse labirinto. Me perco pra me achar dentro de novos e reveladores caminhos, sem atalhos, sem pontes traiçoeiras, andando mesmo que distâncias maiores, pelas trajetórias mais iluminadas, não por medo do escuro, mas por apreciar as cores do destino. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Mulher fácil

Hoje, em um daqueles episódios que a gente prefere esquecer, entrei em um avião que partia de São Paulo na infeliz companhia de uma dúzia de marmanjos, desses cuja quantidade de músculos é inversamente proporcional ao número de neurônios. O desfecho? Chegamos à Goiânia e fomos todos recepcionados pela Polícia Federal, já que os arruaceiros capricharam na bagunça enquanto ainda estávamos nos ares... Acontece que nada disso é importante, o que me despertou algum interesse foi o motivo daquela excursão: Despedida de solteiro.
Tudo indica que a nova moda entre os pobres de espírito é vir à Goiânia, pra uma bela despedida de solteiro, já que aqui é a terra da mulher bonita e sobretudo fácil... Esse rótulo, verdadeiro ou injusto, me trouxe aqui.
Não posso responder por ninguém, mas confesso, eu sou fácil. Nunca ofereci qualquer tipo de resistência, quando o tema é amor. Muito pelo contrário. Na minha modesta coleção, quem conquista sou eu.
Cortejos, belas palavras, alguns presentes e uma quantidade enorme de tédio. O lugar comum nunca me atraiu, e isso não é um discurso, interprete mais como um manual.
Meus mergulhos são de ponta, minhas cartas são sinceras, minha água cristalina.
Esse negócio de ser difícil, de dissimular, jogar verde e complicar o amor, nunca fez sentido pra mim. Gosto de preto no branco, mas sobretudo de uma paleta enorme de cores, intensas ou suaves, que compõe as entrelinhas.
Fácil, penso que sempre fui e isso não deve mudar. No seu sentido mais plural possível. Fácil de ler, de abrir, de me entregar. Em poucos minutos alguns me contam segredos seculares, passadas algumas horas já deixo fluir o que faz parte do meu discreto repertório de 28 anos, e se tivermos mais algum tempo, talvez alguns laços podem se firmar.
Mulher fácil, esse conceito não devia ser assim tão vulgar, um tabu dos mais idiotas, uma piada infantil, uma provocação infeliz.
Pessoa fácil, num mundo dominado pelos terapeutas. Rotina fácil, quando a tendência é complicar. Mulher fácil, pra quem sabe apreciar.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Maio, meu mês lacunar

Sabe-se lá o motivo,  quais os astros resolvem se emparelhar, quais os hormônios  ou neurotransmissores que em cascata se afogam... Sabe-se lá  o porquê.
Tudo conspira pra uma visitação solitária dentro de mim mesma. 
Trinta e um dias, nada convencionais.
Já culpei  o ócio e todos os seus efeitos, já assumi os dias atropelados e os plantões em sequência como os autores. Já senti a mais doce das mansuetudes, mas já desaguei em moinhos de vento.
Perco o apetite, traço novos projetos, planejo as próximas horas e anos, volto atrás, reflito, leio... Um capítulo de um livro e mais um de um terceiro. Pensamentos acelerados e confusos, precisam de um dia corrido pra entrarem na fila e correrem certinho, sinapse por sinapse, sem atropelos, encaixados, fazendo algum sentido, ou deixados de lado, depois de muito me incomodar.
Pesadelos em pleno horário comercial. Lucidez de arder os olhos. Conclusões amargas de engolir. Epifanias evitadas com toda força. A parte boa de tudo isso? Eu e a tela e nossos encontros tidos como casuais, minhas confidências nada secretas, e muito menos claras.
Esclarecimentos, arrependimentos, e vontade nenhuma de voltar atrás. Meus erros ontem, talvez meus pontos fortes amanhã, quem sabe?
Dança descoordenada, do tempo e dos fatos, um par destemido que eu não ouso interromper... Nunca precisou fazer sentido, bastava ser sentido, dentro de mim. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

ao HC, com carinho

Já se passaram oito anos desde que te conheci... Em um primeiro momento, confesso, você me intimidou... Aos poucos fui entendendo o labirinto que te forma, os caminhos tortuosos que só você tem, suas passagens secretas.
Quando nos conhecemos eu era uma adolescente apaixonada, hoje sou uma mulher completamente entregue. Eu era uma estudante de medicina crua dos pés a cabeça, mas você me ensinou todo o pouco que eu sei... Fez me mim uma médica, uma “doutorinha” cheia de arestas a aparar.
Hoje, com o coração apertado, sinto a partida, sinto a batida, sinto a saudade, e as lágrimas a brotar. Com você eu vivi tanta coisa... Fui criando um amor genuíno pelo ato de clinicar. Nós dois formamos uma dupla quase inseparável. 
Tantas vezes, ao chegar à suas portas, aflita e cheia de receios, ia cruzando seus corredores e sentido um aconchego, era sua atmosfera a me amparar.
Incontáveis vezes, foi dentro de ti, em meio às suas paredes descascadas, onde me refugiei. O mundo lá fora acontecendo e eu e você a dar de ombros, com a nossa cumplicidade de verdadeiros amigos desinteressados.
Sendo o sono o maior dos credores, seu leito era o mais reconfortante, minha ilha, meu casulo, meu cadinho redentor.
Algumas vezes, hei de reconhecer, sofri rasteiras e tropeções... Uns inofensivos, outros nem tanto. Virei meu pé com violência e não pude mais pisar no chão... Foi justamente aí quando você me ajudou a dar o maior dos meus saltos.
De você levo as lembranças de uma transformação lenta e irreversível, levo amigos, levo estórias pra nunca esquecer...
Quero para você, a continuação dessa e de tantas outras estórias, que você ganhe seus 18 tão sonhados andares, suas centenas de leitos novinhos em folha, suas enfermarias cintilantes. Quero que você continue salvando vidas, levando algumas outras, e sendo esse ninho, onde de vez em quando eu possa pousar. 

domingo, 28 de setembro de 2014

Palavras

Rima, métrica, sílabas, acento, sonoridade... mas muito mais importante que isso, significado. Minha paixão pelas palavras é antiga, me acompanha desde os tempos mais remotos. Cresci dando atenção à elas, me encantando pelo poder que elas têm. Uma vez desferidas, feito balas, elas te alvejam, feito balas, elas adoçam, de uma vez por todas, os seus dias.
Eu gosto de palavras, seja no meu idioma, seja em outros que fazem minha língua presa travar ainda mais. Por incrível que pareça, gosto de ignorar algumas delas, pra então desvendá-las e escolher, se quero ou não, carregá-las no meu dia a dia.
Tenho meu vocabulário próprio, meus sons e onomatopeias... tenho minhas palavras fofas e sutis, que uso a torto e a direto, pra fazer do meu caminho um passeio.
Por outro lado, sinto informar, sinto elas ecoarem fundo, no meu pensamento. Nem sempre consigo, confesso, mas a maior parte do tempo eu as escolho. Como conheço esta paleta de cores invisíveis, este peso que balança nenhuma é capaz de medir, como costumo observá-las mesmo no escuro, elas pra mim têm uma importância que talvez nem uma longa explicação seja capaz de lhe esclarecer...
Palavras simples, mas em uma canção, elas te fazem remexer. Palavras cotidianas, mas em uma poesia, marcam uma geração. Palavras dissimuladas, mas pra moça desavisada, um coração partido...
Uma vírgula, e tudo vai por água abaixo... Um decibel a mais, e tudo perde o sentido... Um timbre injusto, e a gota pode transbordar...
Muitas vezes meu refúgio, algumas vezes meu algoz, mas sempre, e pra sempre, o ponto de partida. 

domingo, 27 de abril de 2014

Eu ando pelo mundo

Eu ando pelo mundo, e feito na música mais linda, dezenas de sensações me invadem. Não censuro nenhuma delas, dou livre curso ao pensamento, deixo tudo tomar seu lugar.
Dentre as minhas certezas, foi pouco o que restou. Dentre os meus anseios, não há nenhuma dúvida. As coisas se dão ao seu tempo, o que não se aplica às pessoas, essas têm seus próprios mistérios...
“Em que você é forte?” Essa pergunta me emudeceu... Confesso, não sei dizer. Talvez só conheça minha tenacidade quando esta for posta em cheque. Sei que no discurso e na prática, poucas coisas coincidem.
Enquanto a melodia me embala, pouco consigo deter... Eu ando pelo mundo e as tais sensações se multiplicam, vão tomando uma proporção quase incontrolável, elas crescem dentro do vão que ficou. Meu fluxo de pensamento se acelera, toma de mim a calma que carrego no peito, toma de mim a razão que teimo em jamais perder, me toma e eu cedo, não resisto, me entrego, deixo fluir, deixo sentir, deságuo, e em cascata tudo vem à tona.
Mentira, à tona tudo sempre esteve, me conheço tão bem que me assusto com o reflexo no espelho, meu traços joviais são feito uma máscara, escondem todas as ideias, todas as concepções, tudo que me move.
Eu ando pelo mundo, e dentre os acordes, entro em contato com cada um dos meus sentimentos...  Dentre as rimas, me deixo levar contemplando as coincidências da letra e do momento atual... Dentre tudo, entro cada vez mais pra dentro de mim.
Enquanto escrevo sinto que meu semblante muda, que uma serenidade delicada me inunda, e a paz volta a me habitar.
Silêncio e trabalho, meus companheiros distintos, meus amigos de longa data... espero vocês no lugar de sempre.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sparkly colors

You know what? Today I’m going to write in english, because  today in special I’m in a different mood... I just wake up too soon for a ordinary Saturday... I watched a tennis game, but was so boring, the best companion wasn’t there... so I decided to watch anything on tv, and paraaaaam, I didn’t remember how can be good to have a free time... put my imagination to fly, and laugh and sleep, as much as I can...
In the middle of this leak of things to do, I had the best idea... watch my favorite movie ever: ”You’ve got mail”... I don’t know how to explain, but when I see some scenes, when I listen “The Cramberries” singing, some delicious emotions born inside my chest... I smile and a heavy peace takes a place...
I put the dvd, but I don’t know how to put the subtitles, but, to be honest, it doesn’t matter because I know all the dialogues by heart, I remember many of the speeches, and  I can’t describe the reason of I’m so addicted to this movie in particular...
Today I’m not too much concerned about the grammar, about the written of the words, because I’m writing in english, and come on, this is the less important part... all the words have a red warning, everything is wrong, but they have a kind of sense for me.
Sometimes I think that, like in this text, nothing makes any sense... and maybe this is the big point at all. I have a desire, but my brain, so blasé and conservative, just doesn’t let me do what I want... My ideas, so creative and full of freedom, I need to put them in a latent state, I need to abort all the delicious and inconsequent feelings... lock them inside the black role I carry in my chest, filled of speechless sentences...
Sometimes, or, to be completely honest, all the time, I imagine the world with me on the control. I’m doing all the things I really want to do... saying everything is boiling inside myself, without any fear... but, the reality insist to be present and scares out all these sensations. The real world can be so gray, but I prefer the sparkly colors...